sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Só porque estou bêbedo...

Já é sexta-feira. Erro 1!
Estou bêbedo. Talvez seja contra a política do blogue, postar quando se está alcoolizado. Possível erro 2.

Hoje falo-vos da caridade.

Para quem não sabe, sou universitário. 2º ano na Faculdade de Direito de Lisboa, um sítio onde as pessoas são ensinadas a considerarem-se superiores a todas as outras, onde todos os homens de brinco são excluídos, os que não são de boas famílias são considerados "sangues de lama", onde reina a politiquice.

A tendência tem sido a mudança: com toda a liberdade proveniente de Abril de 74, surgiu um grupo de pessoas com tendência a aumentar, onde se defendem com unhas e dentes o valor humano, a religiosidade, a crença na Igreja Católica como salvação.
Vim agora de uma festa universitária, num ambiente de direito - ou seja, festas em casa de um dos colegas, com álcool de qualidade, pessoas de sobrenomes super conhecidos, onde não se falam de qualquer coisa. Fala-se de tudo, menos de sexo. O sexo é tabu para as boas famílias. Eles não fodem.
Estive pela primeira vez dentro de uma casa cheia de fiéis ao Papa, que defendem a mensagem bíblica como defendem a própria vida.
Como sou da terra, como não sou de famílias com nome sonante, como não sou religioso, eu era o gajo docontra: contra o Papa, contra o Sócrates, contra a monarquia. Contra tudo o que defendem.

Ao sair à rua, às 4h da manhã, encontrámos um mendigo, e eles, religiosos que eram foram falar com ele.
Devo dizer, eu que disse que se eles estão na miséria é porque não querem trabalhar, fiquei com uma lágrima no olho.
Naquele grupo de 15 pessoas de bom nome, de volta de um mendigo, senti uma coisa que a ciência não consegue explicar: o amor.
Trataram o senhor como um irmão, deram-lhe uma boa quantia de dinheiro, ouviram a história de um homem que viveu em Angola e veio para Portugal após o 74 e cuja família o desprezou. Um homem que falava com as palavras de Saramago, alguém culto. Falou-nos da Associação "Vida e Paz" que lhe dá alimento, algumas roupas entre outras coisas indispensáveis.

Naquele momento eu senti-me nulo. Eu, o Homem da ciência senti-me impotente perante aquela demonstração de carinho e afecto. Aquele homem podia estar na droga e não estava, podia roubar e não rouba. Diz que reza todos os dias uma oraçãozinha, porque se vive assim é porque Deus assim o entende.

Não posso acreditar nisso, mas acredito na experiência que tive. 15 gajos(as)bêbedos a ouvirem a história de vida de um homem que não conhecem, mas sinceramente preocupados e interessados.

Fiquei sem saber o nome do senhor, mas pela primeira vez, em muito tempo, questionei-me: que força é esta que nos une, que a ciência por mais que tente não consegue explicar?

O post não tem imagem. É solene demais o assunto para ser figurado. Deixo-vos com meras palavras, pois é com elas que o Homem comunica com Deus.

6 comentários:

Gi disse...

Há pessoas a quem o álcool faz mal,a ti deu-te para a reflexão,menos mal...
Agora vem a ressaca...

Petit Joe disse...

O 25 de Abril? Não existiu...

Patife disse...

Palavras alcoolizadas são mais intensas. ;)

Luna disse...

tenho a resposta. é natal e todas as pessoas pensam que têm que ajudar toda a gente.

M disse...

Realmente, a ressaca é fodida. Principalmente quando a anterior ainda não tinha curado a anterior,,,

Luna não me desencaminhes, agora que estou a encontrar o meu caminho da luz =P

Anónimo disse...

Pessoalmente, sou cristã (católica de vez em quando) e apesar de não ir NADA com a cara das "famílias de bem" dou o braço a torcer porque se falassem e nada fizessem era uma coisa, agora se na prática fazem realmente alguma coisa é porque apesar da bajulação cega ao Ratzinger sempre interiorizam qualquer coisita de jeito...